19 de fev. de 2006

Amor, amores



Quando ele olhava para mim, eu desviava os olhos. Por medo de que visse nos meus a entrega absoluta, o sentimento descaradamente exposto. E assim, ele nunca soube da paixão desesperada que nutria . Mas eu só tinha 13 anos e todos o tempo do mundo para aprender a lidar com o que sentia. E ele sumiu na poeira da minha rua, virou retrato na minha memória.


Quando ele perguntou:”Vamos namorar? Só que você tem de desistir da faculdade, mulher minha não vai trabalhar”, não discuti, não tentei argumentar. Apenas disse “não”, e fui chorar escondida a desilusão do segundo amor. Mas eu só tinha 17, ia fazer 18, e muito tempo pela frente para encontrar alguém que não me tolhesse.

Quando ele me beijou e disse que se sentia confuso, eu disse displicentemente que não se preocupasse, que aquilo era apenas um impulso ditado pelo vinho. Nenhuma palavra sobre a delícia daqueles segundos, ou sobre o turbilhão no meu peito. E assim ele também acabou se perdendo no tempo. Mas aos 23, a vida está em plena florescência, há tempo de sobra para procurar o homem certo, um que não tenha dúvidas e complicações.

Quando ele me disse que precisava de ajuda, porque tinha cedido a algumas aventuras fáceis, mesmo estando certo de que me amava, não derramei uma lágrima, não o chamei de cachorro, não me descabelei e nem disse que o queria só para mim. Racionalmente, saquei o telefone de um bom psiquiatra para que fosse estudar a si mesmo e seus motivos. Matei-o dentro de mim e
ele nunca soube que virou zumbi. Mas aos 34, estamos apenas começando a conhecer a nós mesmos e aos outros, o futuro é um horizonte ainda longínquo, onde o amor incondicional nos espera.

Quando ele me questionou: “Você deixaria tudo e viria comigo?”, hesitei. E hesitei por tanto tempo que ele teve tempo de encontrar alguém mais decidido. Me consolei, pensando que aos 45 a gente não deve mesmo acreditar em amor eterno, mas que sempre é tempo de aparecer alguém “adequado”.


Recentemente, e alguns “eles” depois, me dou conta de que aos 56, continuo na mesma posição na janela, vendo o amor passar por mim com todas as suas faces, suas imperfeições, grandezas, sutilezas, dificuldades, beleza, mesquinharia, armadilhas, surpresas, num desfile interminável de emoções que não vivi, porque o imaginava único, completo, definido. Vejo-o rodopiando,
levado pelo redemoinho do tempo, e tenho vontade de gritar: “Volta, meu amor”. Qualquer um deles.

Ou, quem sabe, talvez ainda haja tempo para um novo?

Lilly Rowan

5 comentários:

Márcio disse...

Sempre há tempo pra um novo, sempre! O que importa é que valha a pena!

Anônimo disse...

Ele virá pois que já escuto o ronco de um 747 cruzando o Atlãntico...

Anônimo disse...

Solta a Maguinha dentro de você e vem prum aiousilver, querida Lilly.
Sempre estarei por perto... Beijão.

Anônimo disse...

(Respiração Profunda)

Anônimo disse...

Lilly, segundo a psicologia: amar é DOAÇÃO...
A sua foi bem original - DAR o fora
pela vida a fora.
Inania Verba