19 de fev. de 2006

Rio, 23 de abril de 19equalquercoisa


Saltou do metrô na Presidente Vargas, um calor da porra e já eram 5 horas da tarde. A multidão ocupava quase todo o Campo de Sant’Anna como se esperasse ver Deodoro da Fonseca proclamando a República. E todo mundo de vermelho, parecia o comício das Diretas Já onde vira o Dr. Ulysses, o Brizola, o Lula. Merda de vida filha da puta, morrem os decentes, vencem os calhordas. Sapatos brancos, calça branca, camisa vermelha, um ramalhete de palmas de Santa Rita nos braços, um caixa de velas no saco de plástico. Uma corrente dourada e a medalha. Um anel no dedo mindinho de unha grande. Uma pulseira de chapinha, de um lado o seu nome: Jorge dos Santos. Do outro lado, o nome do santo: Jorge.

Já era noite quando se ajoelhou ao pé do altar, depositou as flores, acendeu as velas e pediu: São Jorge, meu pai, me livra dela que ta arruinando a minha vida, a desinfeliz já desgraçou meu casamento, já me fez perder três empregos e me dá essa tremedeira toda quando lembro dela, tão branquinha, tão cheirosa. Tira essa praga da minha vida, meu Santinho, que eu prometo que pro ano que vem te dou um cavalo branco.

E, como se espera que aconteça, viu o santo lhe dar uma piscadela.

Em maio acertou na mega sena e botou banca de bicho. Em junho conheceu Marina, filha de outro banqueiro. Em julho fez lua de mel nos cassinos de Mar Del Plata. Em agosto foi a Brasília abraçar uns deputados. Em setembro mandou os filhos do primeiro casamento estudarem na Suíça. Em outubro fez campanha pra vereador. Em novembro ganhou a eleição. Em dezembro passou o reveillon na Broadway. Em janeiro foi eleito presidente da LIESA.Em fevereiro sua escola ganhou o carnaval. Em março enfartou, mas sobreviveu.
Todo um ano se passou e ele nunca mais lembrara dela. São Jorge fizera um milagre.

E no outro 23 de abril entrou, impávido colosso, todo de branco, no boteco que dera de presente pra um compadre. Sobre o balcão a imagem do santo onde depositou, solene, uma garrafa de White Horse.

Cumprida a promessa, voltou pra ela.

Caiu de boca na cachaça.

Ro Druhens



3 comentários:

Márcio disse...

Olhaí, tá vendo? Santo a gente não engana! Hehehe

Anônimo disse...

Cachaça x White Horse. Idéia do cacete, e texto com as cores patenteadas de Rô Druhens.

Anônimo disse...

Rô, parabéns

Santos milagreiros, cachaças e políticos, sempre fizeram muito sucesso em nosso impávido colosso (Brasil),mormente grandes fortunas.

Inania Verba