7 de abr. de 2006

Mema


Ro Druhens

Minha mãe fazia pão.

Sovava a massa como quem enfurecida e louca se entrega ao guerreiro vencedor.

Quando a massa repousava sobre o branco mármore, minha mãe cantava.
E cantava como quem entorpecida e rouca se entrega ao herói iconoclasta.

Quando cumprido o tempo de repouso, minha mãe trançava.
E trançava como quem enluarada e nua se entrega ao primeiro amor.

Quando trançado o pão, ela o cobria.
E cobria como quem, trêmula e com frio, se entrega.

E o açúcar sobre o pão trançado tinha o brilho de todas as lágrimas. E o creme amarelo sobre o pão trançado tinha a cor de todas as perdas. E o cheiro do pão trançado corrompia todos os perfumes, exalava seus quereres. O de ir além. O de não ficar. O de jamais ser.

Minha mãe fazia pão e descansava no sétimo dia como se esperasse pela recriação da vida, pela ceia dos justos.

Minha mãe fazia pão e trançava sua vida.
Minha vida.

4 comentários:

Anônimo disse...

No mínimo tomou oito viagras né peste?
Texto filho da puta de bom. Acho que o atavismo nele contido o transforma em algo ainda mais intenso, como você. Parabéns Professora, de novo, é claro.

Márcio disse...

Como água para..pão? Lindão, chefa, chega deu fome!!!

Anônimo disse...

Pão trançado. Chalá. Muito bão, Rô. O panifício e o texto. Beijos.


[Do jeito que vão esses posts, vou ter um orgasmo quando for fazer a minha próxima macarronada atômica.]

Anônimo disse...

Seu pão é sempre recheado de poesia. Que se come e lambe os dedos.