1 de jun. de 2006

Estátua


Grimble

Desde que a viu pela primeira vez, o moço franzino ficava de guarda. Todos os dias, feito um poste, em frente à janela da moça de cabelos cor de fogo. Fizesse chuva ou sol, tempestades, trovões, frio ou calor, lá estava
ele sempre de olho na janela onde morava o fogo dos cabelos dela.

Os transeuntes, os vizinhos, no princípio todos estranharam aquela presença, aquele sujeito esquisito que não se mexia. Chegaram alguns inclusive a deixar cair umas moedas aos seus pés. Aos poucos, ficou
conhecido como "a estátua".

Não sentia fome. Alimentava-se do encantamento por que estava tomado. Sede, matava-a na chuva que escorria-lhe no queixo. Quando estiava, secavam-lhe os beiços.

Uma noite vazia de nuvens e de pessoas na rua, ele resolveu chamar a atenção da moça. Pegou uma pedra pequena e atirou-a na vidraça da janela. O efeito não foi o esperado: ao invés de fazer um barulhinho e apenas acordá-la ou chamar sua atenção, a pedra quebrou a vidraça. O barulho acordou a vizinhança, que veio desabalada olhar quem tinha feito aquilo. Reviraram tudo e não encontraram o autor daquele vandalismo. Foram dormir, desolados.

Nos pés da estátua do moço, uma mancha larga de urina do yorkshire da vizinha.

4 comentários:

Anônimo disse...

Tudo isso me lembrou o Happy Prince, do Wilde, só que é mto mais lindo. Beijo agradecido

Márcio disse...

Tem um belo conto do Cortzár que também fala de estátuas! Botou pra fuder, cara!

b.ponto disse...

.. quem nunca foi hipnotizado??

Anônimo disse...

Gosto tanto das pequenas grandes coisas, essas que podem acontecer a qualquer um. Bom lê-lo!