1 de jun. de 2006

Fui ou não fui. Eis a questão.


Lilly Rowan
Era aniversário de um colega de trabalho.Puxa-saco, vira-casaca, melífluo. Já se nota, não gostava dele. E lá pelo meio da tarde entra porta adentro uma moça bonita, em altos brados, senta no colo dele, faz uma cena. Todo mundo olhando, sacando que era alguém contratada para aquilo. Vem o chefe, acaba com a farra, o colega púrpura de vergonha e do batom deixado pela atriz.
Dez minutos depois, sou chamada com outra colega, esta amiga do peito, à sala do chefe. Que nos recebe com um: “Bonito!!”. E nos acusa de ter preparado a farsa. Já ia dizendo indignada: “Não fui eu!”, quando olho para a cara da amiga. Fazendo cara de ingênua, a mão no peito, as pestanas batendo aflitas, dirige-se ao chefe: “Não fui eu, estou tão surpresa quanto você”. Calei-me. Recebemos um sermão e deixamos a sala. Fui logo dizendo a ela que estava na cara que tinha culpa no cartório. Ela jurou que só soube de tudo após o fuzuê, contado por quem armara a brincadeira. E que por sinal, ao saber do sabão que levamos, foi heroicamente se apresentar à chefia, tomar a bronca que lhe cabia. Enquanto discutíamos, no corredor, sobre o que tinha de fato ocorrido, a amiga me perguntou: “Mas por que você não se defendeu, se não sabia de nada?”. Sem a menor hesitação, respondi: “Porque quando olhei pra sua cara, nem eu acreditei que não éramos culpadas”.
Porque a coisa toda está aí. Se não se tratasse de um desafeto, não duvido que fizéssemos algo assim. Muitas vezes não fui eu, mas podia ter sido.Recentemente, levei uma “cobrada” por algo que teria dito sobre uma pessoa a uma terceira. Pensei, pensei, não lembrava de ter falado aquilo. Mas, com algumas ressalvas, batia com o que eu pensava. O exagero podia ter ficado por conta de quem passou a coisa adiante. Embatuquei. Costumo assumir as coisas que digo, mas disse ou não disse? Se não disse, pensei parecido, fofoquei por dentro. Fui eu, ou não fui eu? Não fui, mas fui. É, pode ser.
O que me leva a pensar mais longe. Quantas vezes, na vida, desejamos resolver certas situações difíceis e ficamos torcendo para que isso aconteça sem que precisemos ser agentes diretos da decisão? Que atire a primeira pedra quem nunca manipulou nos bastidores para que o namorado ou namorada quebrasse o compromisso que, na verdade, estávamos loucos para terminar. Damos todos os motivos, aporrinhamos a criatura até que, exasperada, ela nos atire o anel na cara. E ficamos ali, nos esforçando para não mostrar o alívio na cara, tentando pelo contrário fazer uma pose de rejeitados. Tudo para não termos de magoar alguém diretamente, para que quando nos perguntarem o que aconteceu, podermos dizer, pelo menos da boca pra fora: “Não fui eu”!
Quer dizer, podia ter sido eu. Mas juro que não fui.

3 comentários:

Anônimo disse...

ah é, é? então quem foi?

Márcio disse...

Eu não! Eu nunca fiz isso...cof..cof..cof...uahauhuahuhauuaha

b.ponto disse...

... nego ate a morte ...