8 de jun. de 2006

Minha máxima culpa

Ben Iamin

“Não fui eu” - penso ao acordar, com a camisa ao avesso e um gosto amargo na boca.
“Não fui eu” - decido, erguendo as pernas doídas, abrindo e fechando os dedos levemente dormentes.
“Não fui eu” - assobio, lavando as mãos na pia sem nem ao menos olhar pra elas.
“Não fui eu” - esqueço, ao arrumar o apartamento transtornado, desvirando móveis, varrendo cacos, raspando marcas de unha na parede.
Não fui eu?
Não...
Não, não fui.
Eu?
Corro até o banheiro, ouvindo a frase latejar dentro da minha cabeça.
A cortina verde-água cobre a banheira. Posso ver que contorna um corpo.
Não?
Pé ante pé me aproximo, e, já em sua frente, afasto-a com uma mão direita trêmula.
Não, não fui eu.
Não

Nada
Lá.
Passo algum tempo olhando o fundo imaculado da banheira. Gostaria que minha consciência tivesse essa cor.
Corro até a sala, jogo-me no sofá e zapeio a televisão com o controle remoto.
Só então.
Se não fui eu, por que tenho tanto medo de descer até a garagem e checar a mala do carro?
Desligo a televisão num clique e respondo ao "boa noite" de Willian Bonner. Um boa noite carregado de julgamento, senhor Bonner? De ironia?
Não, meu caro.
Não fui eu.

4 comentários:

Anônimo disse...

Que bárbaro !!! Que puta orgulho tê-lo aqui. Beijo

Anônimo disse...

Ben, voce sabe que sou sua fã de carteirinha. Mas que foi você, foi!

b.ponto disse...

tambem acho..
foi, foi, foi...

marciao meu veio... fantastico.

ab.
b.

Anônimo disse...

Márcio, seu texto é cheio de vida, talento e emoção. Só assim se pode falar de vida e de morte, acho. Vida longa!