Bruno Accioly
‘Meu objetivo é simples. É o entendimento completo do universo, porque ele é como é e o porque da sua existência.’
- Grande merda! - pensou Fausto, enquanto ouvia de seu pai citações do famoso físico inglês Stephen Hawking; com quem tinha em comum apenas a rara doença degenerativa: Esclerose Lateral Amiotrófica. Foi uma idéia de sua mãe, no momento em que ficou sabendo dessa semelhança, tentar motivar o filho a continuar vivendo, em encontrar algum objetivo pra sua vida - mesmo que, teoricamente, tão curta. Hawking buscava, através de suas pesquisas, deixar como legado algo útil para a humanidade. Fausto repetira duas vezes a oitava série.
Diferentemente do professor lucasiano da Universidade de Cambridge, os sintomas da doença, no caso de Fausto, foram extremamente agressivos, debilitando-o em menos de dois anos; e sua família não tinha dinheiro pra comprar uma cadeira de rodas, quiçá um sistema computadorizado que permitisse com que ele se locomovesse e se comunicasse através de comandos gerados pelos movimentos de seus globos oculares. Fausto tornara-se uma ilha para si mesmo.
Máquinas filtravam seu sangue, processavam sua alimentação e eliminavam os subprodutos não utilizados. Os únicos órgãos ainda em funcionamento eram o pulmão, o coração e o cérebro.
Fausto pensava em Janete, no cheiro das rosas e em alguns textos de Clarice Linspector. O tempo passava e o desespero da doença e da solidão se transformou em raiva, depois em pânico, tristeza profunda, até pousar na forma de uma amarga indiferença. Talvez tivesse mais 2 meses de vida, pensava. Um pulmão já havia falhado, e o outro mostrava fortes sinais de desistência.
Certa noite, lamentou-se por ser burro. Stephen era um gênio; talvez, por esse motivo, ainda estivesse vivo depois de quarenta anos doente, e firme na incansável busca por uma solução aos mistérios da vida e do universo. Fausto não chegaria a três, e mal conseguia piscar.
Quando seu coração parou pela primeira vez, os médicos despenderam um esforço gigantesco para ressuscitá-lo, ajudados pelas orações de seus familiares. Voltou à vida e agüentou por mais sete dias, antes do segundo infarto; dessa vez, fatal!
Durante essa semana, chorou todas as noites, querendo que a doença e todo o resto explodisse. Que o universo inteiro explodisse; até não sobrar mais nada. Como um Big-Bang invertido (coincidentemente, teoria criada por Hawking). Mas durante um desses seus acessos de frustração – imperceptíveis a qualquer um, pois nem lágrimas seu corpo era capaz de produzir – se atentou ao carinho e a dedicação com que seus pais cuidavam dele; todo esse tempo. Revezavam em turnos limpando-o, lendo livros e notícias de jornal, conversando sobre os episódios das novelas. Ambos fortes e saudáveis, mas presos na mesma ilha do filho, em solidariedade. E em amor.
Seu universo podia ser minúsculo, quase sem massa ou influência na força gravitacional; mas pelo menos, era óbvio o motivo de sua existência.
- Grande merda! - pensou Fausto, enquanto ouvia de seu pai citações do famoso físico inglês Stephen Hawking; com quem tinha em comum apenas a rara doença degenerativa: Esclerose Lateral Amiotrófica. Foi uma idéia de sua mãe, no momento em que ficou sabendo dessa semelhança, tentar motivar o filho a continuar vivendo, em encontrar algum objetivo pra sua vida - mesmo que, teoricamente, tão curta. Hawking buscava, através de suas pesquisas, deixar como legado algo útil para a humanidade. Fausto repetira duas vezes a oitava série.
Diferentemente do professor lucasiano da Universidade de Cambridge, os sintomas da doença, no caso de Fausto, foram extremamente agressivos, debilitando-o em menos de dois anos; e sua família não tinha dinheiro pra comprar uma cadeira de rodas, quiçá um sistema computadorizado que permitisse com que ele se locomovesse e se comunicasse através de comandos gerados pelos movimentos de seus globos oculares. Fausto tornara-se uma ilha para si mesmo.
Máquinas filtravam seu sangue, processavam sua alimentação e eliminavam os subprodutos não utilizados. Os únicos órgãos ainda em funcionamento eram o pulmão, o coração e o cérebro.
Fausto pensava em Janete, no cheiro das rosas e em alguns textos de Clarice Linspector. O tempo passava e o desespero da doença e da solidão se transformou em raiva, depois em pânico, tristeza profunda, até pousar na forma de uma amarga indiferença. Talvez tivesse mais 2 meses de vida, pensava. Um pulmão já havia falhado, e o outro mostrava fortes sinais de desistência.
Certa noite, lamentou-se por ser burro. Stephen era um gênio; talvez, por esse motivo, ainda estivesse vivo depois de quarenta anos doente, e firme na incansável busca por uma solução aos mistérios da vida e do universo. Fausto não chegaria a três, e mal conseguia piscar.
Quando seu coração parou pela primeira vez, os médicos despenderam um esforço gigantesco para ressuscitá-lo, ajudados pelas orações de seus familiares. Voltou à vida e agüentou por mais sete dias, antes do segundo infarto; dessa vez, fatal!
Durante essa semana, chorou todas as noites, querendo que a doença e todo o resto explodisse. Que o universo inteiro explodisse; até não sobrar mais nada. Como um Big-Bang invertido (coincidentemente, teoria criada por Hawking). Mas durante um desses seus acessos de frustração – imperceptíveis a qualquer um, pois nem lágrimas seu corpo era capaz de produzir – se atentou ao carinho e a dedicação com que seus pais cuidavam dele; todo esse tempo. Revezavam em turnos limpando-o, lendo livros e notícias de jornal, conversando sobre os episódios das novelas. Ambos fortes e saudáveis, mas presos na mesma ilha do filho, em solidariedade. E em amor.
Seu universo podia ser minúsculo, quase sem massa ou influência na força gravitacional; mas pelo menos, era óbvio o motivo de sua existência.