9 de mai. de 2006

O cabelo ou o vestido?


Banana de Pijama



Não há elegância sob uma ventania, a não ser que sejam efeitos especiais, tendo uma modelo de cabelos cuidadosamente preparados em primeiro plano, vestindo uma roupa esvoaçante, cuja pose a faça parecer levitar entre as folhas amarelecidas do outono.
Vento que é vento despenteia, bota cisco no olho, leva papéis das mãos, toalhas das mesas, derruba vasos e joga areia na cerveja. Conhece alguém que grite pra família abrir as janelas porque começou a ventar? Antes pelo contrário, fecha-se tudo, mesmo sabendo que o vento, atrevido que só, vai forçar a barra pelas frestas, uivando, avisando que se quiser mesmo entrar, usa o telhado.
Em meus devaneios de banana romântica, imagino um casal no alto de um morro, prestes a se declarar apaixonados um pelo outro. A jovem de faces rubras, com um sorriso tímido, olha para o mocinho, entreabre a boca e, antes que pronuncie o primeiro som, sente uma lufada de ar que lhe arranca o chapéu. O mocinho, solícito, corre atrás do chapéu da amada. Ao alcançá-lo pelas fitas, tropeça e cai. A mocinha diz “oh”, e o som é levado pelo vento até os ouvidos do mocinho, que vira-se, emocionado, agarrado ao chapéu e grita: “Eu te amoooooo”...a mocinha contra o vento não ouve e também não vê, preocupada que está em segurar a barra do vestido que teima em laçar-lhe o pescoço. Desconcentrado pela visão das coxas roliças da mocinha, o mocinho solta o chapéu, que volta a saltitar encosta abaixo. Ele paralisado. Ela num frenesi ora segurando a barra ora os cabelos, que sem o chapéu desgrenharam-se e lhe entravam na boca e no olho. Ele recobra as forças. Ela não vê. Ele torna a gritar: Eu te amoooo, sem perceber que estava espalhando todo o amor pelo vale atrás dele. O amor cavalgando o vento corre os pastos, as encostas, as fazendas, não havendo quem dele não tome conhecimento. Pessoas saem às portas, cavaleiros param seus galopes, o bar se esvazia, a missa é suspensa para ouvir aquele grito de amor que invade o vale.
Em seu embate com o vento que insiste em desnudá-la, a mocinha olha para rapaz a alguns metros adiante. Percebe que ele articula algumas palavras que não consegue ouvir. Pergunta aos gritos: O quêêêê?? Ele: eu te amoooo. O quêêêê????? Eu te a...a...a... caralho, vai ser gostosa assim lá na puta que pariu.
A mocinha, segurando os cabelos, novamente não ouviu, mas no vilarejo uma mulher desmaiou na porta da igreja.

NOTA: Por um erro meu quando da edição os 3 primeiros comentários deste post são relativos ao texto O vento e o tempo, de Lilly Rowan.
Ro

4 comentários:

Anônimo disse...

ventou nas minhas melhroes lembranças, obrigada, te amo dona Lylma

Márcio disse...

Eu tinha medo dessa música....valeu mesmo pela viagem no tempo! ;)

Anônimo disse...

Paradoxalmente, nesta época, eu só pensava em soltar pipas. Hoje sou furacão.

Márcio disse...

uahahuhauhuahu. Adorei!